NARRATIVAS AMAZÔNICAS // #2 - MISTÉRIO NO TRACAJAQUARA
- H E V O

- 20 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de nov. de 2021
Essa é nossa primeira série de publicações, onde vamos contar alguns contos, histórias e relatos acontecidos no nosso Estado, e para quem não sabe de onde esse poste vem, minha dica é: usamos a expressão “égua” pra tudo. Temos como intuito, mostrar que nosso estado é rico em memórias, e que possuímos uma literatura bem vasta, além de incentivar a cultura que se passa ao longo do tempo. Esperamos que essa série possa fazer com que vocês possam ser incentivados a conhecer as cidades do nosso Estado, e também, esperamos poder oferecer experiências futuras com visitas guiadas nos locais que iremos mencionar, promovendo assim, a importância de todos os nossos valores culturais

Nosso segundo relato continua em Ponta de Pedras na Ilha do Marajó. Essa história também é contada por Alberto Malato no livro “Itaguari - Lembranças de um passado presente”, publicado em 2011.
No relato de hoje, o Recreio continua sendo palco de eventos misteriosos, e de forma mais específica, falaremos de um senhor chamado Miguel Arcanjo e que morava as margens do Igarapé Tracajaquara.
Antes de mais nada, é preciso entender o estilo de vida das pessoas que residem nessas localidades. Quando há uma área de terra que não é utilizada, mas possui um proprietário e trata-se de terras ricas e produtivas, entra em cena o trabalho dos meieiros, que em resumo, passam a cuidar daquelas terras, administrando as plantações e as produções, e no final de uma safra, o valor obtido pelo resultado da colheita é dividido entre o proprietário e o meieiro, e claro, além de possuir um lugar para viver.
O acontecido se passa por volta de 1930, no Igarapé Tracajaquara, localizado dentro da área do Recreio. O Tracajaquara é conhecido por ser um igarapé bem tortuoso e cercado por uma vegetação bem densa e fechada, o que é típico pra região, e por essas características, Alberto menciona ser um lugar um pouco assustador, e mais ainda para quem circular ali sem permissão.
Alberto diz que em um certo dia, chegou até a sede do Recreio um senhor chamado Miguel Arcanjo, “homem pacato, sem rivais, dono de uma calma impressionante” e com idade bem avançada, além disto, não se sabia se em algum momento da vida ele teria tido filhos, ou uma esposa, ou até mesmo um cachorro para lhe fazer companhia. Após todos os acordos e formalidades contratuais, o Miguel passou a residir ali sem qualquer tipo de problemas ou casualidades até então.
O Sr. Ophir, proprietário das terras, sempre recomendava muita cautela e cuidado, além de sempre dizer:
- olha Miguel, aquele igarapé é visagento e da lá já saiu muita gente com as calças na mão, de tanto medo!
Foi então que Miguel replicou dizendo:
- olha “su Orphir, imagine o senhor se tenho medo de visagem, eu é quem ponho elas pra correrem de lá, pois minha mulher que era o diabo em figura de gente, não me aguentou, imagine se um igarapé vai conseguir “ganha cumigo”
(Confesso que senti um pouco de contradição, mas nesse dia ele pode ter finalmente revelado ter tido uma esposa... Além disso, será que realmente o Sr. Miguel era pacato, calmo e sem rivais?!)
Era de costume Miguel ir até a casa principal para conversar com Ophir e sua esposa, e sempre voltava para sua casa (estilo palafita) pontualmente as 18h, até quem um certo dia, ele não apareceu na casa principal do Recreio, como era o costume, então não foi levado a sério.
Se passaram mais dois dias, até que Ophir pediu para que alguém fosse até a casa de Miguel pra tentar descobrir o que estava acontecendo com ele. Matias, que era encarregado de verificar a situação, ao chegar lá tudo que o que viu foi: um quilo de açúcar, cerca de cem gramas de café, meio quilo de “jabá”, um litro de querosene (normalmente usado em lamparinas) e um livro de Abade (não sei se ele se refere a Antoine François Prévost, que foi um escritor romancista)
Matias, por acreditar que Miguel poderia estar exercendo seu trabalho, aguardou o seu retorno... Enquanto isso, Matias já havia feito e fumado dois cigarros de “porronca” (típico do interior), e ao perceber que sua espera era em vão, retornou para a casa de Ophir e contou tudo que havia presenciado, e na mesma hora voltaram para a casa de Miguel para procurá-lo, mas não o encontraram.
No dia seguinte, mais pessoas foram levadas, criando uma busca mais extensa na mata e no igarapé, mas o dia terminou e Miguel não foi encontrado, e isso começou a se tornar estranho, pelo fato de que no dia seguinte também não o encontraram.
Miguel havia sumido sem deixar qualquer tipo de rastro ou de indícios onde pudessem ao menos deduzir de ele onde estaria.
Ophir era influente no jornalismo, então logo após própria a observação do caso, a notícia foi publicada em jornais do Estado. Segundo o relato, diversas sessões de macumba teriam sido promovidas por Preto Juvêncio, mas sem sucesso.
Dona Angelina, esposa de Ophir, devota fiel de São Francisco de Borja, Santo protetor daquela área, também não consegui responder suas preces...
“ [...] Na residência do Miguel tudo estava em ordem, seu chapéu de palha no lugar de costume, a espingarda no lugar de sempre, a canoa amarrada com o nó que sempre utilizava, e um detalhe interessante, o balde com água estava cheio e o bule com café no fogão a lenha, embora sem fogo, como se estes atos tivessem sido os últimos antes de seu desaparecimento. [...]”
Muitas buscas foram realizadas na área, mas todas sem sucesso... E o desaparecimento criou uma série de opiniões e teorias, como por exemplo, ter sido como uma espécie de alimento para outros animais, como jacarés, sucurijús ou etc. É um caso que continua sem respostas até os dias de hoje.
O que vocês acham que pode ter acontecido com Miguel? Comenta aí :)
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Até o próximo!


👏👏👏meus parabéns