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NARRATIVAS AMAZÔNICAS // #1 - A PEDRA MACHADO

  • Foto do escritor: H E V O
    H E V O
  • 18 de jun. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 23 de nov. de 2021

Essa é nossa primeira série de publicações, onde vamos contar alguns contos, histórias e relatos acontecidos no nosso Estado, e para quem não sabe de onde esse poste vem, minha dica é: usamos a expressão “égua” pra tudo. Temos como intuito, mostrar que nosso estado é rico em memórias, e que possuímos uma literatura bem vasta, além de incentivar a cultura que se passa ao longo do tempo. Esperamos que essa série possa fazer com que vocês possam ser incentivados a conhecer as cidades do nosso Estado, e também, esperamos poder oferecer experiências futuras com visitas guiadas nos locais que iremos mencionar, promovendo assim, a importância de todos os nossos valores culturais

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Nosso primeiro relato vem direto do Marajó, de uma cidade que se chama Ponta de Pedras (cerca de duas horas de Belém, indo de barco). Essa história é contada por Alberto Malato, no livro “Itaguari - Lembranças de um passado presente”, publicado em 2011.


A história de hoje se passa em um lugar chamado “Recreio”, um sítio localizado as margens do rio Marajó Açú e fica apenas a alguns minutos da cidade. De forma mais específica, falaremos de uma família que morava naquele local e que passaram por momentos macabros e assustadores.


A história fala sobre um casal que passou a morar no Recreio logo após o falecimento do sr Ophir, que era considerado o patriarca da família. O casal era conhecido por seus olhos claros e azulados, logo, seus cinco filhos herdaram essa característica, o que pode ser uma informação bem importante um pouco mais adiante. Era uma família humilde, então as crianças compartilhavam brinquedos e até mesmo algumas roupas, que inclusive ganhavam de primos que possuíam maiores recursos financeiros.


O Recreio conta com uma praia de aproximadamente trezentos metros, onde a areia fina e o vento fazem deste lugar, um lugar perfeito, além de poder contemplar o encontro do Rio Marajó Açú com a Baía do Marajó, e torna-se ainda mais irreprovável por se tratar de uma praia particular.




Era de costume três dos cinco filhos brincarem na praia durante a tarde e sem nenhuma preocupação, enquanto ouviam histórias de uma infância assombrosa, vivida e contada por uma moça chamada Margarida, que foi criada pelo Sr. Ophir e sua esposa.


Mesmo sob os conselhos de Cici (mãe das crianças), as crianças sempre brincavam na praia, atém que certo dia, Cici sentiu um forte aperto no coração ao lembrar que as crianças estavam brincando sozinhas naquele dia, e sem a supervisão de um adulto, e ela sempre sentia premonições quando algo de nefasto fosse acontecer com a família, e naquele dia não foi diferente, ela sentiu que algo de ruim aconteceria, então, imediatamente concentrou toda sua energia e seus pensamentos naquelas três crianças que estavam na praia, e longe de seus olhos.


Nesse momento, esse relato se abre para uma das entidades mais conhecidas e que faz parte do folclore brasileiro, o Curupira. É normal que nos interiores essa crença seja mais difundida e mais aberta. O Curupira é uma entidade que protege a mata, por mais que seja necessário se vingar ou apenas assustar alguém, e no nosso caso, ele assusta as crianças que estão na praia. No relato, Alberto menciona que a crença em Ponta de Pedras, é de que o curupira atira pedras próximo a vítima, fazendo com que a pedra seja tocada, e aquele que a toca, imediatamente é encantado e passa a ter uma febre altíssima, além de uma dor de cabeça que beira o insuportável. Ele diz que o encanto só pode ser quebrado com uma reza muito forte e banho de água benzida por um Padre em uma sexta-feira santa.


- “Nossas três crianças eram meninos normais que só deixavam de transparecer tal feito quando se exorbitavam de suas traquinices de moleques. O Joseph, que era o mais novo, esse então se destacava por ser malino ao ponto de cuspir e morder as pessoas, sua antipatia era tanta, que quando se batia, todos ficavam felizes com sua desgraça, porque ficavam livres por alguns minutos de suas molecagens”

Durante aquela tarde ensolarada que é típica da região marajoara, as crianças se divertiam com uma brincadeira chamada “macaca” (é uma brincadeira onde um joga um objeto para o outro sem deixar cair no chão). Até que então uma pedra é atirada próximo das crianças, e o livro relata que era uma pedra branca, de aproximadamente .15x.10 cm, onde em uma extremidade a pedra era mais grossa e na outra afilava como uma lâmina, tendo assim, uma forma de uma cabeça de um machado.


Segundo o relato, as crianças não se assustaram por acreditar que poderia ser apenas alguém tentando meter medo ou tentando assustá-las. Por não ligaram muito, pegaram a pedra e começaram a brincar de macaca com ela, seguindo à risca as regras da brincadeira. Após muito tempo, Cici começou a se sentir muito mal e com um nível de tontura bem elevada, então comunicou aos irmãos que estavam dentro da casa, o que estava sentindo. E duas das crianças que estavam na praia, comentaram sobre também se sentirem mal, onde ambos disseram sentir muita dor na cabeça.


Enquanto isso acontecia, Cici começou a pedir para Teodoro, pai das crianças, ir até elas e trazer para dentro da casa da família, enquanto dizia repetidamente que isso só iria acabar quando finalmente fossem assombrados por um bicho do mato.

Logo, Teodoro vai até onde as crianças estavam, e ao chegar no local viu algo muito incomum: as crianças estavam sentadas de cócoras no meio do desenho da macaca, onde cada um estava em uma extremidade, formando assim, um triângulo equilátero perfeito. Sem perceber direito o que estava acontecendo, ele mandou as crianças voltarem para dentro da casa enquanto ia até a capoeira verificar as armadilhas.


Ao voltarem pra casa, as crianças procuraram se acocorar novamente, só que de frente para um esteio, e então formando outro triângulo. Ao chegar perto das crianças, Cici notou aquela atividade sinistra que estava acontecendo, e chegando bem mais próximo delas, também notou que os olhos de cada um estavam rubros como uma brasa incandescente de um vulcão, e logo deu o alarme de algo estava muito estranho ali, e o pior, acontecendo com os próprios filhos.


Margarida decidiu tocar em Joseph, e notou que ele estava com uma febre muito elevada e anormal, assim como Maurício e Rosa, os outros dois irmãos que também tinham tocado naquela pedra. Enquanto isso, eles perceberam que o Maurício estava portando aquela pedra, mas não imaginavam que aquilo tinha causado todo esse evento, foi então que imediatamente colocaram as crianças dentro do quarto, onde receberam compressas de álcool e água. E por três dias seguidos a febre sempre acontecia no mesmo horário em que elas tiveram o primeiro contato com a pedra e sempre com todos os mesmos sintomas. Cici então percebeu que aquilo já não se tratava de apenas uma febre “normal”, mas sim algo sobrenatural, e então concluiu que com toda a certeza aquilo se tratava de um encanto.


Se passaram mais dois dias, e mesmo com curandeiras tentando tirar aquele encanto, nenhuma resposta positiva era obtida. E então uma senhora que era devota incondicional de São Francisco de Borja, que é considerado o protetor daquela área, se apegou ao Santo, e lhe fazendo inúmeras oferendas, no sétimo dia teve a graça alcançada, que foi quando exatamente a febre se desfez daquelas crianças, e o Joseph imediatamente voltou a ser travesso, e os outros dois levantaram como se coisa alguma tivesse acontecido.


Depois de todo o ocorrido, nunca mais as crianças brincaram sozinhas na praia, e a pedra misteriosamente sumiu daquele lugar como se nunca tivesse existido, e por isso, dizem que até hoje o Curupira habita naquela praia.


Enquanto escrevia esse post, fiquei até meio receoso (heheh) e de todos esses tempos em que pude estar lá, ainda não presenciei coisas anormais, e espero nunca presenciar! É um lugar muito lindo, mas por conta dessas lendas confesso que sinto um pouco de medo...


Mas e aí?! O que achou deste relato?! Curte, comenta aí e compartilha com teu pessoal! Esperamos que gostem e até o próximo episódio!

3 comentários


Vilma A T Malato
Vilma A T Malato
20 de jun. de 2020

Viajei nesse conto👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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Marcio Vinicius
Marcio Vinicius
19 de jun. de 2020

Uma leitura de qualidade e com vários fatos!

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FERNANDA MACHADO
FERNANDA MACHADO
19 de jun. de 2020

Nossa excelente história, me senti criança novamente lendo. Me prendeu do início ao fim, parabéns pela iniciativa, de recuperar algo perdido, que a sociedade e as crianças de hoje não sabem o que é, lembro que ficava na frente de casa e ouvia essas histórias dos mais velhos. Gostei muito!!

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